No alto dos 88 anos, Elsa Funganti Dal Forno conserva na memória duas datas que a enchem de orgulho. A primeira é 17 de maio, quando aniversariam ela e Santa Maria. A outra é o longínquo 13 de junho de 1932, quando, junto da família, mudava-se para aquela que considera a região mais bonita da cidade: o bairro Medianeira.
– Lembro como se fosse hoje da nossa primeira casa na Avenida Medianeira e do armazém do meu pai. Tinha só um engenho onde comprávamos farinha de milho para polenta e, se tivessem cinco casas por aqui, era demais. Isso não era nada, e, quando chovia, a gente se atolava de barro até a altura do joelho – conta
a idosa que, segundo vizinhos, é a mais antiga moradora do bairro.
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Em mais de oito décadas, a aposentada acompanhou como poucos o desenvolvimento da região. Ela recorda de quando as carroças foram substituídas pelos primeiros ¿autos¿, das obras da movimentada avenida, dos altos edifícios, da expansão do comércio local e do alvoroço popular com a construção da Basílica, concluída em 1985. A obra do altar da cripta da igreja contou, inclusive, com o trabalho de seu marido, que era pedreiro.
Um dos pesares da aposentada é não poder contar, à época, com a disponibilidade de máquinas fotográficas que registrassem cenas a serem revisitadas na atualidade, e que ela gosta tanto de rememorar.
Paixão impulsionada pela fé
Viúva, com quatro filhos e quatro netos, transmitiu à família a devoção por Nossa Senhora da Medianeira. Segundo ela, a oração é um remédio diário, e não há graça que não seja alcançada. Ela conta que com frequência é procurada por amigos para rezar por alguma causa.
Na casa onde atualmente mora e onde junto funciona a farmácia da família, não faltam copos de água benta e imagens de Nossa Senhora espalhadas pelos cômodos. Muitas foram as missas e as romarias, e também os padres e as freiras com quem consolidou amizades. O motivo da sua maior fama, porém, foram os doces. Dona Elsa, por 62 anos, comandou a equipe de doceiras da romaria.
– Essa basílica e Nossa Senhora da Medianeira são nosso bem mais precioso. É por isso que esse é o bairro mais lindo da cidade.
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Mesmo na área central, dona Elsa mantém o hábito de se sentar na frente da casa para tomar mate. Com os cabelos já branquinhos, mas conservando vaidade ao combinar, por exemplo, a cor do esmalte com o batom, encheu-se de alegria quando foi convidada, pela reportagem, a posar para fotos no canteiro central da "sua" avenida predileta.
Entre um clique e outro, muitos abanavam e até paravam para dar um beijo na moradora mais conhecida da redondeza.
– Ah, deixa eu tirar uma foto ao lado da minha paixão – disse o comerciante Gilson Alberto da Cás, 54 anos, um vizinho da aposentada que passava pelo local.